02/03/2017

Resenha Meu menino vadio

  e arquivado em    


O jornalista Luiz Fernando Vianna e seu filho, Henrique, são unha e carne — às vezes unha do filho na carne do pai. Henrique é autista. Pouco fala, mas algumas palavras repete à exaustão. Tem momentos de agressividade contra si mesmo e contra terceiros. Sabe ser irônico. Gosta de desenhos animados e de mergulhar no mar. Como todo adolescente, tem suas curiosidades e seus impulsos, só que sem grande cerimônia. Luiz Fernando decifra os sons que ele emite, seus desejos imediatos e muitos de seus silêncios, no entanto não tem como alcançar o que o filho sente lá no fundo do fundo.
Há quem diga que ter um filho com deficiência é uma benção. Luiz Fernando Vianna discorda. Se fosse mesmo um presente, antes de receber ele diria: “Ah, não precisava.” Com toda a franqueza e um pouco de música, o autor conta a sua experiência, cheia de altos e baixos, momentos de ternura e também de desespero ao lado do seu menino vadio.

Resenha:

"Todo pai de autista é meio autista. Talvez um tanto mais do que meio." (from "Meu menino vadio: Histórias de um garoto autista e seu pai estranho" by Luiz Fernando Vianna)

O livro conta a história de Henrique,um adolescente autista e de seu pai ,que juntos percorrem todos os dias as dificuldades e desafios que o autismo traz com ele.
O livro me tocou bastante,pois parece o grito preso na garganta de tantos pais e mães ,assim como eu que cuidam e amam desesperadamente seus filhos com autismo.
Para mim que sou mãe de uma menina adolescente autista,achei o livro real,triste e verdadeiro.
Assim como khadija (minha filha) Henrique também teve seu diagnóstico aos 4 anos de idade,começando ai as intervenções e terapias que nós como pais corremos tanto atrás.
O autor conta a rotina repetitiva e as vezes exaustiva que leva com seu filho,o preconceito ainda muito forte em nossa sociedade que nos deixa as vezes enfraquecidos e as vezes mais corajosos de jogar na cara da sociedade,que nossos filhos existem e que vão fazer parte do mundo,quer as pessoas gostem ou não.

"Diante dos olhares estranhos de quem vê nossos filhos como mal-educados, temos reações variadas: ignoramos, damos um sorriso amarelo, fazemos cara feia ou partimos para cima. Tudo depende do momento, do humor. Ao menos comigo é assim, e não deve ser muito diferente com outros que passam por isso. É comum Henrique estar com" (from "Meu menino vadio: Histórias de um garoto autista e seu pai estranho" by Luiz Fernando Vianna)
O livro nos traduz de forma assustadora...assim como o pai do Henrique ,também me pego nas mesmas dúvidas...será que faço pouco? será que se eu tentar algo novo ,minha filha pode evoluir?
E assim ,vamos arrastando uma pesada corrente de dúvidas e culpa ,pela vida.
Todos nós estamos sujeitos a ter um filho,ou um parente com alguma deficiência ,então livros como esse nos ensinam,a olhar a deficiência com outros olhos,pois certamente um dia cada um de vocês irão se deparar na família,nos amigos o nascimento de uma pessoa deficiente.

"Como também ressalta Ana Nunes, quem viver o suficiente não escapará de ter por perto, entre familiares ou amigos, gente com algum tipo de deficiência. É só aguardar. No entanto, em vez de esperar sentada, a pessoa pode se mexer e fazer algo. Nem que seja reprimir a cara de nojo." (from "Meu menino vadio: Histórias de um garoto autista e seu pai estranho" by Luiz Fernando Vianna)
Assim como Khadija ,Henrique também não é verbal,repete várias frases que gosta,como dormir,comer,banho etc...isso é chamado de ECOLALIA ,eles falam tantas frases que pra gente parece não terem nenhum sentido,porém nós que os conhecemos já podemos ter pistas de algo,quando eles repetem certas frases.
As vezes também me pergunto...pra quer falar tanto em um mundo tão cheio de gente que acha que sabe demais?
a falta de verbalidade de khadija dói as vezes,mais prefiro até ela assim,do que como tantos idiotas úteis que esses dias tem sem manifestado na internet e na vida.
E por que ser mais um a tagarelar num mundo em que tanto se fala? E para que se fala tanto? Não guardamos segredos, mas gritamos Não registramos momentos na memória, mas fotografamos. Não refletimos, mas opinamos. Quando a barra pesar (depressão, filho autista, câncer, Alzheimer), o que as pessoas vão fazer com o monte de bytes de felicidade postiça que armazenam em seus arquivos? Ainda há os fascistas de gabinete, que se sentam diante de um computador para espalhar ódio, nas redes antissociais, por tudo o que seja diferente. Diante disso, deve ser melhor ficar em silêncio, como Henrique. E eu? Por que também não? O que meu filho diria se pudesse ler o que escrevo sobre ele?" (from "Meu menino vadio: Histórias de um garoto autista e seu pai estranho" by Luiz Fernando Vianna)
Assim como o pai do Henrique ,umas das coisas que mais temo é a morte...
Me pego pensando assim como ele,quem vai cuidar da minha menina? Esse é um sofrimento que todo pai e mãe de autista deve ter durante toda a vida.
Pois ,sabemos da fragilidade dos nossos filhos ,e será que alguém vai suprir todo cuidado,amor e dedicação que nós temos?

"Já passei da metade da vida, talvez dois terços. A saúde emite os primeiros sinais de enfraquecimento. Amigos da mesma idade dão alguns sustos, pessoas próximas de mais idade começam a desaparecer. O tempo está correndo, e cresce o medo que persegue todo pai de alguém com deficiência: o de morrer antes do filho. Se vier a acontecer, gostaria de lhe deixar como mensagem o verso de Cartola: “Fiz por você o que pude.” Mas não será verdade. Fiz muito pouco. Verdade será que o amei bastante. Foi difícil, mas não foi sacrifício. Pai de autista sofre um bocado. No entanto, ama demais também. Em silêncio, gritando ou escrevendo, ofereço minha dor e meu amor para os que estão abertos para aceitar Henrique. Não estarão me fazendo um favor. Conhecerão mais a si mesmos e talvez se transformem em pessoas melhores. Pode valer o esforço." (from "Meu menino vadio: Histórias de um garoto autista e seu pai estranho" by Luiz Fernando Vianna)

O que posso realmente falar desse livro,é que ele tem muito amor em cada capítulo,frase ,virgula ou ponto...
Por mais que o autismo assuste alguns,cause estranheza em muitos,nós somos loucos pelos nossos filhos,é um amor tão grande,que deixamos de viver nossa vida pra viver a vida deles,nos isolamos com eles,choramos suas angústias e também explodimos de amor a cada gesto de carinho e amor que eles nos transmitem .

Termino esse livro,com a certeza que aprendi muito com ele,me fez refletir bastante e acho que todos deveriam ler esse livro,para tentar entender um pouquinho a nossa vida ,angústias,medos e alegrias.

"copio Argemiro Garcia: “Duvido que ele venha a se tornar um canalha. Isto nunca ouvi falar que um autista fosse.”" (from "Meu menino vadio: Histórias de um garoto autista e seu pai estranho" by Luiz Fernando Vianna)

(li pelo Kindle,o preço dele na amazon está 17,91)


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10 comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. É Day,não é fácil não...
    Somente quem tem um filho com deficiência sabe a luta diária que enfrentamos.
    Uma vez ouvi uma atriz que tem um filho com a mesma deficiência do meu,dizendo assim: " Eles(deficiente), estão preparados para o mundo,mas o mundo não está preparado para eles".
    Triste!

    E assim como você, morro de medo do futuro; de morrer. Não tenho medo da morte!
    Mas de deixar o meu filho que depende de mim para tudo.

    E se acho que ter um filho sofredor uma bênção?!
    Não acho não!!!!!!

    Eles sofrem demais. :/
    Mas amo meu filho com toda minha força. E o defendo de tudo como uma leoa.

    Bem,é preciso muita coragem para ler esse livro.

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    Respostas
    1. Verdade Jana. Olha enviei hoje teus livros.

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    2. Janaína!
      Não sabia que tem um filho deficiente.
      Qual a deficiÊncia dele?
      cheirinhos
      Rudy

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    3. Oi Rudy!
      Ele nasceu com síndrome de West,que evoluiu para epilepsia...
      E tem um leve autismo.
      Mas obrigada por suas palavras de força no comentário abaixo.

      Forças para todas nós! ;)

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    4. Janaína!
      Mulheres como você e a Day e tantas outras que tem filhos com algum tipo de deficiência, merecem mesmo muita força e fé, porque levam felicidades aos seus filhos e continuam suas batalhas diárias.
      cheirinhos
      Rudy

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  3. Day!
    Imagino o quanto o livro pode esclarecer muitas coisas para você e para quem tem filhos na mesma situação.
    Imagino que por vezes vocês pensem que estão sós em suas lutas, mas pelo livro, dá para notar que muitos mais passam pela mesma experiência.
    Nossa! Imagino o que você, a Janaína e o autor pensam em relação a morte, quem tomará conta dos seus pequenos amados, né?
    Muita força e fé para vocÊs!!
    “Todos os homens, por natureza, desejam saber.” (Aristóteles)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP Comentarista de MARÇO, livros + KIT DE PAPELARIA e 3 ganhadores, participem!

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  4. Fui estagiária de pedagogia e acompanhava crianças com deficiência. Tenho uma queda por trabalhar com crianças com necessidades especiais, então esse livro me atraiu desde o comecinho por tratar da relação pai e filho nesse contexto. Vc disse que o livro é triste e verdadeiro e sua resenha reflete isso totalmente. Continue amando e cuidando da sua filha, talvez um dia as pessoas entendam que uma deficiência nunca vai ser maior que o ser humano que a tem.

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  5. Oi, Day!
    Nunca li nenhum livro que aborde o tema Autismo e não costumo ler livros que relatam o contidiano das pessoas, mas após ler sua resenha quero ler Meu menino vadio, me emocionei com sua resenha... admiro os pais que tem filhos com alguma deficiência, mesmo enfrentando a luta diária o amor incondicional sempre está presente...
    Enfim, valeu pela dica!

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PRA CIMA!